A ureia é um composto nitrogenado não proteico e quando incluída na dieta dos ruminantes, tem como finalidade substituir o nitrogênio da proteína verdadeira, reduzindo o custo da dieta, ou elevar o teor de nitrogênio dos volumosos de baixa qualidade, aumentando sua eficiência no aproveitamento de alimentos geralmente de baixa qualidade, que, em condições normais, são poucos aproveitados.
A ureia é mais utilizada na estação seca do ano, pois durante esse período as forragens tropicais geralmente são caracterizadas por elevado teor de fibra e baixo teor de proteína, não suprindo a necessidade dos microrganismos que digerem a celulose do rúmen. Isso ocasiona baixa atividade e a multiplicação desses microrganismos, prejudicando a digestibilidade da fração fibrosa e a velocidade de passagem do alimento pelo trato digestivo do animal.
A ureia, ao ser ingerida, é hidrolisada em amônia, que é tóxica para todos os animais vertebrados. Mas os ruminantes conseguem utilizar essa amônia, graças à simbiose com microrganismos naturalmente presentes no seu rúmen-retículo, os quais empregam a amônia como substrato para a síntese de suas próprias proteínas. A amônia pode ter dois destinos: ser absorvida pelo animal, o que não é desejável ou ser utilizada pelas bactérias do rúmen, o ideal. A capacidade das bactérias para utilizarem o nitrogênio não proteico (NNP) vai depender, primariamente, da quantidade e do nível de degradação da energia fornecida ao animal (carboidratos) e da capacidade de crescimento da população de microrganismos, mas existe um limite para o crescimento microbiano, o qual, teoricamente, depende da ingestão de energia. Assim, a utilização de ureia será maior em dietas com baixo nível de nitrogênio e com altos níveis de energia, minerais e outros componentes que aumentem a atividade microbiana. As exigências em nitrogênio das bactérias ruminais são atendidas quando o nível de amônia no líquido ruminal é superior a 150 mg/litro.
Os carboidratos são a principal fonte de energia para a síntese de proteína microbiana e sabe-se que existe estreita dependência entre o uso da ureia e o conteúdo de energia da dieta. Por esse motivo, as recomendações para o seu uso são baseadas, principalmente, na concentração de energia digestível na dieta. Das fontes de energia disponíveis, o amido é a mais satisfatória, por ser fermentado a uma taxa relativamente constante. Por isso é que as rações que contém grandes quantidades de milho são mais adequadas para a eficiente utilização da ureia. O melaço é menos valioso, pelo fato de ser rapidamente fermentado, enquanto a celulose é menos indicada do que o milho, por ser fermentada muito lentamente no rúmen.
A disponibilidade, os conteúdos de fibra, proteína e energia, e a relação nitrogênio/enxofre dos alimentos fornecem os critérios para julgar o provável sucesso ou falha na suplementação com ureia. Quando a forragem contém fibra altamente resistente à fermentação, a suplementação com ureia poderá aumentar a taxa de digestão, mas não aumentará a taxa de passagem suficientemente para aumentar o consumo de forragem.
Existem inúmeras combinações que podem ser feitas na alimentação do animal com ureia, como por exemplo, sal mineral, cana de açúcar, bagaço de cana, capim picado, silagem, melaço, concentrado, mistura múltipla ou sal proteinado, entre outras misturas regionais. O importante é adaptar o animal a essa nova alimentação com ureia de maneira progressiva e respeitando sua idade, já que em animais com idade inferior a seis meses a ureia não deve ser consumida e para animais mais velhos pode-se utilizar quantidades crescentes do nutriente em sua alimentação.
O consumo excessivo de ureia e o baixo em carboidratos fermentáveis podem resultar em casos de intoxicação pela amônia. Esta intoxicação ocorre quando o acúmulo de amônia no rúmen é capaz de elevar o pH neste compartimento, favorecendo a sua absorção, podendo levar o animal a morte devido a sobrecarga do nutriente no fígado quando a ureia não é eliminada através da urina, fazendo com que a ureia retorne ao sistema através da parede do rúmen. Geralmente, os sintomas da intoxicação aparecem em menos de uma hora após a ingestão excessiva de ureia e é conhecido como “ciclo da ureia”.
Os sintomas mais frequentes são a salivação em excesso, os tremores e ou espasmos musculares, agitação, surdez ou timpanismo, micção e defecação constantes, respiração ofegante, falta de coordenação motora, e respiração ofegante.
A utilização de ureia na dieta de ruminantes deve seguir algumas regras a fim de evitar o quadro de intoxicação:
1) Introduza a ureia gradativamente, permitindo a adaptação dos microrganismos a doses crescentes de ureia. Se houver alguma interrupção no fornecimento da ureia, reinicie o fornecimento mediante novo período de adaptação.
2) Após o período de adaptação, limite o fornecimento de ureia ao máximo de 40 g/100 kg de peso do animal/dia. Por exemplo, se você está fornecendo ureia para novilhos de 300 kg de peso, então a quantidade máxima diária de ureia é de 120 gramas/animal (40 g x 300/100 kg). Se os animais forem muito pesados, a quantidade diária de ureia não deve exceder os 200 gramas/animal.
3) Evite que o animal ingira a ureia em uma única dose diária. Fracione tal dose em várias refeições (tratos) e, se isso não for possível, dê preferência por misturar a ureia com um volumoso deixado à vontade dos animais no cocho. Espontaneamente os animais vão procurar o cocho para comer diversas vezes ao longo do dia. Isso diminuirá o risco de ingerir a dose diária de ureia de uma vez só.
4) Evite introduzir ureia em lotes de animais famintos. Se um lote vem submetido a um período prolongado de jejum, aguarde alguns dias suplementando somente o volumoso. Forme lotes homogêneos de animais, apartando os dominantes. Apenas introduza a ureia quando o consumo voluntário do volumoso tornar-se constante, estável e regular, entre todos os animais do lote.
5) A ureia também pode ser fornecida misturada ao concentrado ou junto ao sal mineral. Há vantagens e desvantagens nessas alternativas, mas para grandes lotes de animais alimentados coletivamente, o mais seguro é mesmo misturar com o volumoso. A cana picada (muito pobre em proteína) é o principal volumoso a ser “corrigido” com ureia. Nesse caso, o padrão é adicionar 0,5% de ureia à cana durante o período de adaptação. A concentração de ureia pode ir aumentando gradativamente até atingir 1,5% após a adaptação. Por exemplo, para uma carreta contendo 2.000 kg de cana picada, adiciona-se 10 kg de ureia no início da adaptação. Para animais bem adaptados, a quantidade de ureia, nesse exemplo, pode chegar a 30 kg por carreta de cana picada.
6) Para facilitar a mistura da ureia no volumoso, faça uma diluição dela em água, empregando quatro litros de água para cada 1 kg de ureia. Espalhe a solução sobre o volumoso com um regador e use um garfo (gadanho) para melhor distribuir a mistura no cocho. De preferência, o cocho deve ser coberto (para evitar chuva) e furado em baixo, para que um eventual excesso dessa solução de ureia não se acumule no fundo, o que favoreceria uma intoxicação.
7) Ao invés de ureia pura, utilize uma mistura de ureia com sulfato de amônio, na razão de 9:1. O sulfato fornecerá enxofre, necessário para os microrganismos sintetizarem os aminoácidos metionina e cisteína, importantes constituintes da proteína.
8) Procure fornecer também um concentrado energético, o qual representa uma fonte de energia prontamente disponível, que vai estimular a proliferação microbiana (e, consequentemente, a síntese de proteína a partir da ureia).
9) A proteína verdadeira, obviamente, é de melhor qualidade nutricional que a ureia. Portanto, não substitua um alimento proteico por ureia. A ureia deve ser empregada apenas para suplementar o déficit proteico da dieta. Animais especializados e de alta produtividade precisam, obrigatoriamente, de proteína verdadeira.
10) Apesar das regras gerais acima expostas, não há uma “receita” única para o fornecimento de ureia aos ruminantes. As recomendações acima devem ser adaptadas caso a caso, e o bom-senso deve prevalecer. Acompanhe com atenção especialmente o consumo voluntário dos animais. Diante de uma súbita e acentuada redução do consumo voluntário, ou diante de sintomas de intoxicação, suspenda o fornecimento de ureia.
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