O baixo valor nutritivo dos volumosos fornecidos aos bovinos tem limitado a expressão do alto potencial genético dos animais. A introdução de leguminosas na alimentação de bovinos promove aumento na produção, e no desempenho animal pelo fornecimento da dieta com qualidade superior. Além disso, a consorciação entre gramíneas e forrageiras contribui para o aumento da produção de matéria seca da pastagem, pela incorporação de nitrogênio atmosférico ao sistema solo-planta-animal.
A principal vantagem das leguminosas está associada à capacidade de fixação biológica de nitrogênio que as espécies possuem, reduzindo custos com fertilizantes químicos no fornecimento do nutriente às plantas. Enquanto as gramíneas tropicais possuem de 8 a 10% de proteína bruta, em seu melhor estado vegetativo, as leguminosas forrageiras tropicais atingem em torno de 16 a 20%. A suplementação proteica de bovinos sob pastejo é uma estratégia vantajosa para balancear a dieta dos animais, visando melhorar o ganho de peso vivo, aumentar a conversão alimentar e diminuir a sazonalidade de produção.
As leguminosas são pertencentes à família Fabaceae, que engloba espécies de hábito rasteiro a plantas arbustivas. Na pecuária, as espécies rasteiras costumam ser consorciadas com gramíneas, e as arbustivas são alocadas individualmente no pasto ou em fileiras. Para que o uso da leguminosa seja viabilizado, é interessante que a espécie cultivada apresente elevado teor de proteína, rápida velocidade de estabelecimento, resistência ao pastejo, persistência no sistema e considerável produção de matéria seca. Dentre esses aspectos, a persistência das plantas é apontada como a mais decisiva para a escolha da leguminosa, e está diretamente relacionada com estratégias de crescimento da espécie, proteção das gemas de crescimento contra a alimentação bovina e, no caso das espécies rasteiras, a capacidade de exploração do ambiente também interfere na persistência das plantas. A persistência das plantas pode ser entendida como sua capacidade de se propagar e estabelecer no local que foi implantada ao longo dos anos, sem que haja a necessidade de plantios sucessivos. Para que as leguminosas exerçam sua principal função, e para persistência dessas plantas em pastagens consorciadas, o sistema deve proporcionar condições edafoclimáticas favoráveis à nodulação e fixação biológica de nitrogênio.
O êxito da consorciação de forragens e leguminosas tropicais inicia-se com a escolha das cultivares mais adequada às condições edafoclimáticas, à natureza de exploração, à capacidade de intervenção e a disponibilidade de capital. A escolha das espécies que serão utilizadas no consórcio também deve considerar a compatibilidade entre elas, pois ambas serão submetidas às mesmas condições de solo, clima e manejo. As opções mais utilizadas e/ou promissoras do país são as plantas: Stylosanthes sp. (estilosantes), Arachis pintoi (amendoim forrageiro)e Leucaena sp. (leucena).
Os estilosantes possuem cerca de 30 espécies, anuais e perenes, sendo a cultivar Campo Grande mais significativa no uso sob pastejo. Exige solo de baixa à média fertilidade, apresenta alta resistência à geada e tolera sombreamento. Produz cerca de 6 a 8 t/ha/ano de matéria seca, de boa palatabilidade e com 16 a 18% de proteína bruta (PB).
O amendoim forrageiro possui alto valor nutritivo, tem hábito de crescimento prostrado, apresenta adaptabilidade em solos de baixa fertilidade, tolerância ao sombreamento, com teor médio de 13 a 25% de PB. Também caracteriza-se pela alta produção de matéria seca (7 a 14 t/ha/ano).
Apenas a leucena possui hábito de crescimento arbóreo, dentre as leguminosas citadas, mas pode ser manejada para ser mantida em uma altura que facilite o pastejo. Em solos férteis, plantios consorciados de leucena com gramíneas pode suportar até 6 UA/ha, mesmo durante a estação seca, pois essa leguminosa possui sistema radicular profundo e se recupera rapidamente com o início da estação chuvosa. Essa espécie deve ser manejada com muito cuidado, pois apresenta o risco de se tornar uma planta invasora, por possuir alta capacidade de dispersão.
Para iniciar o cultivo de pastagens consorciadas com leguminosas, é recomendável que a implantação seja realizada no início do período das chuvas a fim de obter maior emergência das plantas e o solo deve ser preparado de acordo com as características específicas de cada área. Por exemplo, em áreas de baixada ou planas devem ser feitos o preparo total do solo, com o objetivo de realizar o controle mecânico das plantas invasoras e de facilitar a incorporação de calcário e a aplicação de fertilizantes. Em locais com declividade acentuada, o preparo deve ser parcial, priorizando a conservação do solo. A semeadura da gramínea e da leguminosa pode ocorrer na mesma operação, através de plantio em sulcos ou em faixas.
No caso de pastagens já formadas, onde apenas a leguminosa será semeada, as gramíneas devem ser rebaixadas por roçagem mecânica ou por pastejo com alta lotação, para facilitar o preparo de solo. Então, a espécie leguminosa pode ser semeada, não havendo a necessidade de semear a gramínea, pois o banco de sementes existente no solo faz com que a pastagem retorne espontaneamente. O plantio da leguminosa em áreas planas pode ser feito a lanço ou em sulcos. Já em áreas declivosas de pastagens a leguminosa deve ser implantada em covas, em linhas ou em faixas alternadas para evitar a erosão em decorrência do revolvimento do solo.
Mediante coleta de dados no Brasil, em vários locais, sob diferentes sistemas de manejo, a consorciação de gramíneas e leguminosas proporcionou um ganho médio de peso vivo equivalente a 329 kg/ha/ano. Os ganhos serão maiores quanto mais degradadas estiver a pastagem e mais deficiente em nutrientes. Baseado na experiência nacional com gado de leite, o uso de leguminosas com gramíneas apresenta um incremento médio de 20 a 30% de leite em vacas submetidas ao pastejo.
A área de pastagens degradadas no Brasil ainda é significativa, e necessita de alternativas de exploração sustentável para que esse cenário seja modificado. O consórcio de gramíneas e leguminosas tem se mostrado como uma possibilidade rentável para intensificar os sistemas de produção pastoris, mas deve ser bem planejado e acompanhado por técnicos competentes, com conhecimento suficiente para implantação do sistema.
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