Nas últimas décadas, a atividade leiteira brasileira evoluiu de forma contínua, resultando no crescimento consistente da produção, que colocou o país como um dos principais do setor no mundo. De 1974 a 2014, a produção nacional quintuplicou, passando de 7,1 bilhões para mais de 35,1 bilhões de litros de leite. Entretanto, a partir de 2015, a produção caiu por dois anos consecutivos, entretanto em 2017, o Brasil voltou a registrar crescimento em sua produção de leite, superando o período de queda anteriormente observado.
Para a continuidade do desenvolvimento no setor leiteiro é necessário ações conjuntas de melhoria na produção e aumento de animais em lactação. Com isso, as novilhas são fundamentais para o processo, aonde sua criação e manejo apresentam importância para a obtenção de vacas de reposição com alta produtividade e qualidade do produto final.
Novilhas são bovinos classificados entre o período da desmama até o primeiro parto. Esse período da vida do animal é denominado também como recria. Exige atenção, pois o animal encontra-se em constante alteração corporal e hormonal. À medida que a idade avança, ocorre a redução na taxa de formação dos ossos e de proteína, aumento acentuado na deposição de gordura, além de ocorrências como puberdade, primeiro cio, escolha da época de inseminação, primeira gestação e parto.
Nessa fase, as novilhas podem ser criadas ou adquiridas de outras propriedades, sendo a escolha, na maioria dos casos, determinada por fatores econômicos e se o pecuarista possui habilidade para realizar a atividade de cria. A opção por criar as novilhas na propriedade reduz a possibilidade da entrada de doenças no rebanho. Já a aquisição de novilhas permite a escolha de animais com características genéticas para melhoramento do rebanho leiteiro e com isso pode melhora mais rapidamente o potencial genético do rebanho.
A criação desses animais pode ser em sistema de confinamento ou à pasto, combinando alimentos concentrados (sorgo, milho, soja, melaço de cana, ureia, caroço de algodão), volumosos (pastagem, feno, silagem) e suplementação mineral (fosfato monocálcico, calcário, fosfato de cálcio, fosfato de potássio). Em geral, para o balanceamento da dieta é indicado diariamente o fornecimento de 40 – 80% de volumosos e de 1 kg a 2 kg de concentrado, constituído, em média, de 16% de proteína bruta e 70% de nutrientes digestíveis totais. Durante este período é recomendado que os ganhos de peso por dia não ultrapassem 800 g por animal, havendo a possibilidade de prejudicar o desenvolvimento da glândula mamária e acarretar em menor produção de leite nas lactações.
Independente do sistema de criação, o conforto animal deve ser respeitado. Cuidados devem ser tomados com relação ao estresse térmico e dimensionamento dos equipamentos e instalações principalmente nos sistemas de confinamento. Em sistemas a pastos cuidados com problemas relacionados à infestação de ecto e endoparasitas são bem mais preocupantes. Neste sistema que os animais são criados soltos os problemas com formação de barro e estresses térmicos são mais difíceis de serem equacionados.
O início da fase de puberdade pode variar com a espécie mas ele está bastante correlacionada com o peso corporal e a idade. Quando mais rápido for o crescimento do animais mais cedo o início da puberdade ocorrerá. Como exemplo, na raça Holandesa preconiza-se a primeira cobrição quando o animal atinge entre 60 – 65% do peso adulto, cerca de 340 kg. Com isso, no primeiro parto a novilha deve apresentar de 85 a 90% do peso adulto, em torno de 480 kg. Idades mais precoces para a primeira cobrição (entre 15 – 16 meses) exigem planos mais elevados de alimentação.
Quando chegar o momento da cobertura cuidado deve ser tomado na escolha do touro a ser utilizado. Deve ser selecionado um touro que seja provado para gerar bezerros pequenos no momento do nascimento. Essa a grande vantagem da utilização da inseminação artificial em relação a utilizar a monta natural pois não é possível ter um registro estatístico dessa característica.
Após a cobrição das novilhas é necessário manter um suprimento adequado de alimentos para garantir o ganho de peso planejado para alcançar o peso ideal no momento da parição. É possível a adoção da mesma dieta utilizada para as novilhas não gestantes, porém são permitidos ganhos de peso superiores a 1 kg por dia a fim de recuperar animais com peso abaixo do ideal. A quantidade de concentrado oferecido deve ser entre 0,9 e 1,8 kg por animal por dia, desde que o volumoso apresente mais de 60% de nutrientes digestíveis totais (NDT) na matéria seca e entre 1,8 e 2,7 kg por animal por dia de concentrado quando o volumoso for inferior a 60% de NDT na matéria seca. Nesse período é importante a disponibilização à vontade de água e suplementação mineral. Essa recomendação pode ser utilizada tanto para criação a pasto como em confinamento.
Nas últimas semanas de gestação as novilhas devem ser adaptadas à mesma alimentação que é fornecida às vacas em lactação, e levadas às instalações destinadas às fêmeas em pós-parto. Atenção especial deve ser dada para as novilhas com o objetivo de evitar os efeitos da dominância das vacas, que pode prejudicar o consumo de alimentos. É fundamental a existência de área de cocho suficiente para que todas possam comer com tranquilidade, permitindo a ambientação com o tipo e quantidade da nova dieta, antes do parto.
As novilhas devem parir em boas condições corporais, com o escore entre 3,5 e 4,0 o qual varia de 1 para novilhas abaixo do peso até 5 para novilhas obesas. Normalmente, as novilhas que parem com o peso abaixo do ideal apresentam dificuldades no parto e bezerros com alguma deficiência, além de apresentarem menor quantidade e qualidade do colostro, maior período entre o parto e a nova fecundação e menor produção de leite na lactação. Aquelas que parem obesas, além do aspecto econômico, apresentam mais dificuldades no momento do parto.
Após o parto as novilhas passam ser denominadas de primíparas e essa categoria animal é mais exigente que uma vaca adulta pois ela ainda está em crescimento. Vacas de primeira lactação mal alimentadas, principalmente nos dois primeiros meses pós-parto, têm sua produção de leite reduzida nas futuras lactações e afeta também a vida reprodutiva, sendo fundamental, portanto, a atenção ao fornecimento de alimentação adequada.
Além dos cuidados com a alimentação e reprodução das novilhas também deve ser realizado o manejo sanitário preventivo às doenças através da elaboração de um calendário de vacinações contra aftosa, raiva, carbúnculo hemático e carbúnculo sintomático, além de realização de testes de tuberculose e brucelose e controlar as verminoses. A adoção de um sistema de produção de novilhas deve levar em consideração todos os fatores que contribuam para a melhoria do desenvolvimento de uma vaca leiteira, levando em consideração que quanto mais cedo as novilhas iniciarem a função reprodutiva, maior será o número de crias e lactações, beneficiando o sistema como um todo e gerando mais lucro a propriedade.
Fontes consultadas
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SILVA, SEBASTIÃO. Perguntas e respostas sobre gado de leite. Viçosa. Aprenda Fácil, 2006. 224p.
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