Nos últimos anos a pecuária leiteira vem passando por grandes transformações. O mercado têm-se tornado cada vez mais exigente tanto em relação aos preços quanto à qualidade. Criou-se então, a necessidade de buscar alternativas para a alimentação dos animais, visto que este é o item mais oneroso no custo de produção, em torno de 60%.
O milho é a fonte mais comum de carboidratos utilizada para os ruminantes, porém pode ser substituído, em parte, por outros ingredientes de qualidade equivalente e de menor custo, dentre eles, os resíduos de cervejaria. O resíduo seco da indústria cervejeira possui altos teores proteicos e energéticos, apresentando em média 26% de PB, 24% de FDA e 44% de FDN. Por isso são muito indicados para substituir o milho, principalmente em épocas em que o preço está elevado.
Na produção de cerveja, o grão de cevada é colocado para germinar. Neste processo ocorre a conversão do amido em dextrina e açúcar. Este processo é interrompido, por meio de aquecimento, quando o ponto máximo de conversão é alcançado, resultando no “malte de cevada”. O malte é moído e pode então ser misturado com milho, arroz e outros cereais. Posteriormente faz-se a separação das frações líquidas, que são utilizadas na produção de cerveja, e sólidas, que consistem nos resíduos.
De acordo com as proporções de malte de cevada, arroz e milho usadas no processamento industrial há variações na composição nutricional deste co-produto, de forma que seja necessária a correção da dieta em vacas leiteiras, a partir da análise periódica do material.
Tabela1. Composição química do resíduo de cervejaria úmido (RCU), resíduo de cervejaria seco (RCS) e levedura de cerveja (LC).
Composição | RCS | RCU | LC |
---|---|---|---|
MS (%) | 93 | 21 | 93,1 |
PB (%) | 26 | 25,4 – 27,1 | 46,6 |
NDT (%) | 66 | 13,86 | 79 |
EM (Kcal/Kg) | 2330 – 24900 | 489,3 – 516,6 | 3070 |
ED (Kcal/Kg) | 2780 | 2790 | 3480 |
EE (%) | 6,5 | 1,365 | 1,1 |
FB (%) | 14,9 | 3,13 | 3,5 |
FDA (%) | 23 – 24 | 4,83 | 4 |
FDN (%) | 42 – 46 | 8,82 | 54 |
Cinzas (%) | 4,8 | – | 7,2 |
Micronutrientes (%) | RCS | RCU | LC |
Cálcio | 0,33 | 0,069 | 0,15 |
Fósforo | 0,55 | 0,115 | 1,47 |
Enxofre | 0,32 | 0,067 | 0,47 |
Sódio | 0,23 | 0,048 | 0,08 |
Cloro | 0,17 | 0,036 | 0,32 |
Magnésio | 0,16 | 0,034 | 0,26 |
Potássio | 0,09 | 0,019 | 1,81 |
Micromin. (ppm) | RCS | RCU | LC |
Cobalto | 0,09 | 0,019 | 0,54 |
Cobre | 23 | 4,83 | 41,3 |
Ferro | 266 | 55,86 | 89 |
Iodo | 0,07 | 0,015 | 0,38 |
Manganês | 40 | 8,4 | 7 |
Selênio | 0,76 | 0,16 | 0,98 |
Zinco | 30 | 6,3 | 42 |
Fonte: NRC, 1988.
Outra caraterística em relação à proteína úmida de cervejaria (RUC) é a presença de aminoácidos (lisina e metionina). A lisina é apontada como o aminoácido mais limitante à produção de leite, em contrapartida a presença de metionina é bastante vantajosa como complemento ao farelo de soja, visto que este é pobre em metionina. Além disso, o RUC se apresenta como uma ótima fonte de proteínas não degradadas (PNDR).
Inicialmente, o resíduo úmido de cervejaria é classificado como alimento concentrado, porém as análises bromatológicas dos materiais do Brasil apresentam teores de FDN muito superiores aos encontrados em silagem de milho. Desta maneira, o RUC também pode ser utilizado como substituto parcial do alimento volumoso na dieta de bovinos leiteiros.
Tanto o resíduo úmido de cervejaria como a silagem de resíduo úmido classificam-se como by pass, ou seja, as proteínas destes materiais não são quebradas em compostos mais simples no rúmen, elas passam para o abomaso, e então são utilizadas pelo animal.
No que diz respeito à composição mineral, são recomendados cuidados na substituição dos farelos proteicos por RUC, visto que este apresenta baixos teores de sódio e potássio, podendo gerar deficiência. De outro lado, o RUC apresenta-se como uma ótima fonte de selênio, tanto em relação à quantidade como à disponibilidade. A correta suplementação com selênio e vitamina E auxiliam na redução de problemas reprodutivos como a mastite.
Das vantagens na utilização de resíduo úmido de cervejaria na alimentação de vacas leiteiras, temos:
- Regulação das funções ruminais pelo seu poder tampão sobre o pH;
- Alta palatabilidade, elevando os níveis de ingestão diária de alimentos;
- Elevação imediata do volume de produção, com ótimas taxas de conversão alimentar;
- Aumento no vigor reprodutivo do rebanho;
- Promove aparência saudável ao aspecto físico dos animais;
- Baixo custo relativo;
Quanto aos fatores limitantes à utilização do RUC um deles está relacionado aos altos teores de umidade deste material, em torno de 80% a 85%, o que pode trazer problemas em relação ao transporte em grandes distâncias (elevação do custo por unidade de MS), diminuição da ingestão de matéria seca pelos animais e dificuldades na conservação, pela maior susceptibilidade ao embolorecimento e apodrecimento.
Os fungos e levedura são os principais responsáveis pela degradação aeróbica que pode afetar negativamente o valor nutritivo do produto. Além disso, eventualmente, alguns fungos podem produzir toxinas como a Zearalenona, que possui efeito estrogênico, prejudicando o desempenho reprodutivo dos animais. Desta forma, é indicado que este material seja rapidamente utilizado nas propriedades, já que os custos de secagem são muito elevados.
Em linhas gerais, a utilização de co-produtos da indústria na alimentação de animais se torna cada vez mais interessante tanto do ponto de vista econômico, quando o preço for compensador, quanto em relação às exigências de políticas ambientais.
Referências Bibliográficas
MENEGHETTI, C. de C. et al. Características nutricionais e uso de subprodutos da agroindústria na alimentação de bovinos. Revista Eletrônica Nutritime, v. 5, n. 2, p. 512-536, 2008.
CÓRDOVA, Helder de Arruda et al. Utilização de cevada em substituição ao milho em dietas para vacas holandesas de alta produção. 2004. Disponível em: < http://tede.udesc.br/bitstream/tede/2198/1/PGCV04MA001.pdf>. Acesso em: 06 nov 2018.
GONÇALVES, Lúcio Carlos et al (Ed.). Alimentos para Gado de Leite. Belo Horizonte: Fepmvz-editora, 2009. 568 p.
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