A pastagem é a base da produção de bovinos de corte no país e a de custo mais baixo quando comparado com as suplementações. A área de pastagem, com espécies cultivadas no Brasil, está em torno de 115 milhões de hectares, enquanto a área com pastagem nativa é de 144 milhões destacando-se nesta categoria a predominância das Brachiarias. Estas áreas abrigam cerca 178,6 milhões de cabeças de bovinos e produção de cerca de 7,6 milhões de toneladas de equivalente carcaça.
A capacidade de suporte das pastagens é bastante afetada pelo solo, clima, e espécie ou cultivar forrageira.
A falta de atenção por parte do produtor quanto a nutrição e ao manejo da planta resulta na queda acentuada da capacidade de suporte e do ganho de peso animal nos três ou quatro anos após sua formação.
Devido a variação climática que ocorre ao longo do ano o ritmo de crescimento da planta é também afetado levando ao processo de estacionalidade de produção, ou seja, durante o período chuvoso e quente do ano a planta cresce bem mais do que na estação seca e/ou fria do ano.
Várias são as técnicas ou alternativas empregadas no sentido de se solucionar o problema da estacionalidade de produção, sendo que a escolha correta de ações deve ser condizente com o nível de exploração pecuária da propriedade.
Nesse sentido, diversos autores citam técnicas para corrigir o problema da estacionalidade como: adoção do pastejo diferido, conservação de forragens suplementares e irrigação. Esse autor também ressaltou que essas alternativas foram apresentadas de forma crescente quanto ao nível tecnológico a ser empregado, além de se buscar a adoção simultânea de várias delas no sentido de melhorar o potencial produtivo das plantas forrageiras.
O diferimento de pastagens consiste na reserva de massa seca no pasto. Isto pode ser conseguido com a utilização de uma carga animal constante, ou seja, não permitindo um aumento do número de animais na pastagem no período das águas. Dessa forma consegue-se uma sobra de massa na pastagem. Outra forma de se conseguir o acúmulo de massa seca no pasto é com a vedação do pasto na época das águas; ou seja, tira-se os animais do pasto ainda durante as águas, dessa forma o pasto cresce e consegue um acúmulo de massa para o período da seca. A vedação pode ser escalonada de forma a não ocorrer excesso de massa que pode ser perdida. Para o diferimento de pastagem deve-se levar em consideração o tipo de forrageira. Cada uma tem um crescimento diferenciado. Deve-se também escolher a área ideal para se fazer a vedação. E o mais importante: deve-se utilizar uma suplementação proteica ou concentrado protéico/energético para os animais em pastagens vedadas, pois só dessa forma os mesmos poderão aproveitar a quantidade de massa seca disponível na pastagem.
O período de diferimento está diretamente relacionado com a fertilidade do solo. Em solos de baixa fertilidade pode ser necessário o diferimento da pastagem por períodos de tempo mais longos, porém, com a utilização de adubações, o período pode ser reduzido, em função das taxas de crescimento da planta forrageira.
O diferimento requer a associação da área vedada com uma outra exploração de forma mais intensiva onde a maioria dos animais estarão concentrados durante o período de veda. Isso permitirá que a pastagem diferida acumule matéria seca, na ausência dos animais. A extensão da área a ser diferida e da explorada intensivamente devem ser calculadas em função das necessidades nutricionais dos animais, nos períodos chuvoso e seco, e do potencial de crescimento das plantas forrageiras utilizadas.
O diferimento de pastagem é uma tecnologia simples, de baixo investimento, proporcionando um melhor aproveitamento da pastagem produzida. Apresenta a desvantagem de ser uma sobra de pasto, massa seca de baixo valor nutricional, fazendo com que, segundo Martha Júnior & Balsalobre (2001), empreendimentos baseados na exploração de pastos diferidos são caracterizados por taxas de lotação animal raramente superiores a 1,5 e 2,0 UA/ha-1/ano-1, o que limita seu uso a sistemas em fase inicial de intensificação. Portanto para melhor aproveitamento de seu uso deve ser usada uma suplementação.
De maneira geral, as épocas de diferimento estudadas variam de Janeiro a Abril, podendo em alguns trabalhos ser incluso o mês de Dezembro. A época de utilização normalmente obedece a amplitude de Maio a Setembro, podendo em alguns trabalhos ser incluso o mês de Outubro.
Pastagens diferidas precocemente, isto é, entre dezembro e início de fevereiro, acumulam maior quantidade de forragem para os períodos considerados críticos do ano (maio a setembro). Por outro lado, pastagens cujo diferimento é demasiadamente prematuro podem apresentar problemas relacionados ao aumento da proporção de material senescido, além da maior propensão ao acamamento e às perdas por pastejo, principalmente caso sejam utilizadas na segunda metade do período seco (nesse caso os valores de DIVMS e PB são os menores).
Os maiores valores de DIVMS e PB da forragem coincidiram com os diferimentos iniciados no final da estação de crescimento (março/abril) e o consumo ocorre no início do período de utilização (maio/junho). Já o consumo ao final do período (julho/setembro), houve redução nos teores dessas frações da planta, porém eles sempre foram superiores aos observados nas pastagens submetidas às demais épocas de vedação. Por outro lado, pastagens diferidas no final da estação de crescimento e utilizadas no início do período crítico de produção de forragem apresentaram acúmulo de massa muito baixo, resultante do curto período de descanso e das condições climáticas favoráveis.
Para B. brizantha cv. Marandu, cultivada num Latossolo Amarelo, textura argilosa, o diferimento em abril com utilizações em junho e julho proporcionaram forragem com maiores teores de proteína bruta, contudo os maiores rendimentos de proteína bruta foram obtidos com o diferimento em fevereiro e utilizações em agosto e setembro. Os maiores coeficientes de digestibilidade in vitro da matéria seca foram obtidos com o diferimento em março ou abril e utilização em junho. A partir dos resultados obtidos, recomenda-se o seguinte esquema: diferimento em fevereiro para utilização em junho e julho e, diferimento em abril para utilização em agosto e setembro. Já, para A. gayanus cv. Planaltina, quando o diferimento for realizado em março, as pastagens devem ser utilizadas em junho ou julho, enquanto que, para o diferimento em abril, as épocas de utilização mais adequadas são agosto e setembro. Em pastagens de P. maximum cv. Tobiatã, com utilizações em junho e julho, o diferimento em fevereiro proporcionou os maiores rendimentos de matéria seca verde (MSV). Já, com utilizações em agosto e setembro, o diferimento em março foi o mais produtivo.
A forma mais recomendada para a prática do diferimento é o seu escalonamento. Um terço da área a ser vedada deve ser reservada em fevereiro, para utilização nos primeiros meses de seca, e dois terços em março, para uso no período restante de seca. Com este procedimento, a qualidade do material acumulado pode ser sensivelmente melhorada.
O diferimento permite elevar a taxa de lotação das propriedades valores por volta de 2 UA/ha, dependendo de vários fatores, tais como a fertilidade do solo, espécie forrageira, condições climáticas e outros citados acima. Para exemplificar como essa variação ocorre foi realizada uma simulação para determinar os limites do diferimento em termos de taxa de lotação para solos de baixa, média e alta fertilidade nas regiões norte e central do Brasil. Para tanto considerou -se que o período de utilização da área diferida na região norte é de três meses e no Brasil central de seis meses; a taxa de lotação animal é 15% menor na secas que nas águas; nas áreas diferidas a taxa de lotação média ao longo do ano é 25% maior que nas áreas extensivas; as áreas de pastejo diferido receberam 50kg de N/ha no momento da vedação e as áreas foram vedadas por um período de 100 dias; consideraram solo de baixa fertilidade aqueles com menos de 20% de argila, média entre 20-40% de argila e alta mais que 40% de argila
Através da simulação (QUAL SIMULAÇAO) pode-se notar que a taxa de lotação potencial no Brasil Central é de 1,24,1,55 e 1,86 UA/ha, respectivamente, para solos de baixa, média e alta fertilidade. Já na Região Norte, seria possível obter taxa de lotação de 1,78, 2,23 e 2,68 UA/ha também em áreas de baixa, média e alta fertilidade, representando resultados muito superiores à média nacional (cerca de 0,6 UA/ha).
O diferimento de pastagens é uma técnica muito interessante que permite ao pecuarista um aumento considerável na taxa de lotação durante o ano todo, mas que depende de vários fatores para se obter bons resultados na produção. O zoneamento de áreas para diferimento no Brasil serve de referência para época de vedação e utilização do pasto mais indicado para cada região.
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