A dieta de vacas leiteiras deve ser controlada e balanceada durante o ano todo, ou seja, durante todo o ciclo produtivo dela. Trabalhos atuais mostram que a nutrição e conforto para as vacas no período seco são tão importantes quanto no período de lactação. As vacas utilizam a energia fornecida pela alimentação para manterem-se vivas e produzir leite e o excedente é dirigido para sua reprodução e acumulo de gordura corporal. Desde o período de pré até o pós-parto, o animal deve estar bem nutrido para uma boa gestação e nutrição do feto. Uma vaca subnutrida durante a gestação pode abortar, pois a vaca utiliza suas energias corporais e direciona as produções de hormônios para sua sobrevivência. Caso haja baixa condição nutricional da vaca durante o período seco, o bezerro nasce com baixa resistência às doenças. Dessa forma, a nutrição da vaca é de extrema importância no desempenho do bezerro e futuro animal adulto como fonte de carne e/ou leite.
Os resultados expressos na Tabela 1 mostram que animais com boa dieta no pré-parto (Grupos 1 e 3), chegam no cio mais rapidamente, reduzindo assim o intervalo entre partos. Além disso, os animais com boa nutrição pós-parto (Grupos 1 e 2), independente da nutrição pré-parto, apresentam boa fertilidade (taxa de prenhez). Os animais que não foram bem nutridos no período pós-parto (Grupos 3 e 4), possuem fertilidade inferior. O melhor resultado é alcançado pelos animais (Grupo 1) que receberam boa alimentação em ambos os períodos.
Tabela 1. Influência da alimentação sobre o desempenho reprodutivo de vacas com 4 grupos de animais recebendo diferentes tratamentos nutritivos no período pré e pós-parto.
Grupo | Nutrição | Índices Reprodutivos | ||
Pré-parto | Pós-parto | % de vacas em cio até 60 dias pós-parto | Concepção ao 1° serviço (%) | |
1 | Boa | Boa | 80 | 67 |
2 | Ruim | Boa | 45 | 65 |
3 | Boa | Ruim | 81 | 42 |
4 | Ruim | Ruim | 17 | 33 |
Fonte: Adaptado de Wiltbank et al. (1962).
O período pré-parto das vacas ocorre, aproximadamente, 60 dias antes do nascimento do bezerro e é onde as glândulas mamárias são regeneradas para uma lactação normal com expressão de todo o potencial produtivo. No caso de novilhas gestantes, não devem chegar ao parto abaixo do peso ideal, pois a produção de leite da primeira lactação pode ser muito prejudicada, assim como o desempenho reprodutivo, devido ao atraso do cio no período pós-parto, aumentando o intervalo de partos e elevando a tendência desse animal de ser eliminado do rebanho pela baixa produção de leite ou baixo desempenho reprodutivo.
Por outro lado, a vaca também não deve parir acima do peso devido ao baixo consumo de alimento no início da lactação, sendo mais propenso a apresentar doenças metabólicas como acetonomia, doença causada pelo excesso de mobilização de gordura corporal para produção de leite; problemas de casco e de parto, devido ao alto peso do bezerro no nascimento.
Nos últimos dias de gestação ocorre a formação de colostro e o aumento da demanda da glândula mamária por glicose, aminoácidos, ácidos graxos, minerais e vitaminas, aumentando a demanda energética e proteica dos animais nessa fase. Há aumento na ingestão de matéria seca devido à maior demanda energética, no entanto, reduz 30% no consumo de alimento nas três últimas semanas de gestação, sendo que, grande parte deste declínio ocorre nos últimos sete dias de pré-parto. Com isso, as exigências energéticas e proteicas que não são supridas pela ingestão de matéria seca passam a ser obtida por meio da mobilização das reservas corporais, situação conhecida como “balanço energético negativo”, comumente observada durante as últimas três semanas de gestação e nas primeiras semanas de lactação.
Para amenizar este declínio, recomenda-se diminuir 5% de Fibra de Detergente Neutro (FDN), a partir de 21 dias pré-parto, a fim de aumentar a proporção de concentrado na dieta que possuía 40% de FDN entre 60 a 21 dias pré-parto. Durante essa fase, o consumo alimentar diminui enquanto as exigências energéticas aumentam, sendo indicado aumentar a Energia Líquida de Lactação de 1,32 Mcal/kg (60 a 21 dias pré-parto) para 1,52 Mcal/kg (21 dias pré-parto em diante). Além disso, recomenda-se que a vaca ou novilha gestante receba 0,5 (animais em boas condições corporais) a 1,0% do peso vivo de concentrado com 12 a 14% de Proteína Bruta (PB) na ração, com base na matéria seca, 20 a 30 dias antes do parto. É recomendado também reduzir as taxas de cálcio e sal comum para a metade dos níveis normais nos últimos 20 a 30 dias do parto para evitar a febre do leite e o edema de úbere. Durante a época seca do ano, os animais devem ser suplementados com silagem de milho, sorgo, gramíneas tropicais ou cana de açúcar corrigida com 1% de ureia à vontade além de, 1,0 a 1,5 kg de farelo de soja ou o equivalente em proteína para ganharem 1,0 kg/cabeça/dia.
No pós-parto o pico de produção de leite ocorre entre 45 a 60 dias, porém o maior consumo de alimento ocorre após 10 semanas, consumindo aproximadamente 4% do peso vivo. Com isso, é normal que as vacas percam peso nessa fase, pois a produção de leite é maior que o consumo de nutrientes, podendo produzir até 30% de leite acima do nível de consumo de nutrientes, pois consegue utilizar as reservas de gordura. As proteínas limitam a produção de leite, porém suas reservas são pequenas nesta fase (Tabela 2).
Tabela 2. Relação entre concentrado e volumoso para vacas de acordo com seu nível de produção.
Leite (kg/dia) | Concentrado (%) | Volumoso (%) |
Até 14 | 30 – 35 | 65 – 70 |
14 a 23 | 40 | 60 |
24 a 35 | 45 | 55 |
36 a 45 | 50 – 55 | 45 – 50 |
Acima de 45 | 55 – 60 | 40 – 45 |
Fonte: Adaptado de Embrapa.
É importante oferecer uma dieta que permita a maior ingestão de nutrientes possível, evitando que percam muito peso e tenham sua vida reprodutiva comprometida. É recomendado aumentar a concentração de PB na dieta para 18 a 20% com base na matéria seca. Este teor varia em função do consumo de matéria seca e da produção de leite da vaca, ou seja, vacas com maiores produção devem se alimentar com dietas com PB de 20%. Também, como as vacas normalmente se alimentam após as ordenhas, fornecer a dieta aos animais nesses períodos pode-se conseguir aumento do consumo. É importante salientar que ganhos muito superiores a 800 gramas/cabeça/dia no período do nascimento do bezerro até a próxima gestação, podem ocorrer acúmulo de gordura na glândula mamária e prejudicar o crescimento de tecido secretor de leite, prejudicando a produção de leite na primeira lactação e aumento com o custo de alimentação para manter esse ganho.
No caso de novilhas de primeira gestação, o manejo deve ser diferenciado e agrupado separadamente de vacas gestantes para não haver competição entre elas, visto que as novilhas gastam em torno de 10 a 15% a mais de tempo no cocho quando comparadas aos animais adultos. Além disso, como estes animais ainda estão crescendo, devem receber dietas com pelo menos 20% acima das exigências de mantença em termos de energia e proteína no período pós-parto. A dieta deve conter no mínimo 1,7 Mcal/kg de MS de energia líquida, que eqüivale a 73% de NDT na MS sem, entretanto, deixar o nível de fibra em detergente neutro ficar abaixo de 28% da matéria seca.
Além dos aspectos nutricionais, é importante atentar-se à quantidade de água disponível (de preferência próximo ao coxo) para as vacas em lactação, as quais requerem uma quantidade elevada de água, já que o leite é composto de aproximadamente 88% de água. Normalmente o consumo gira em torno de 8,5 litros de água para cada litro de leite produzido. Quando a temperatura é elevada (no verão), o consumo de água também aumenta.
Referências Bibliográficas
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HORST. R.L., J.P. GOFF, T.A. REINHARDT & D.R. BUXTON. 1997. Strategies for preventing milk fever in dairy cattle. J. Dairy Sci. 80:1269-1280.
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