As pastagens ocupam dois terços da área agricultável do mundo, o que indica sua importância para a produção animal em todo o planeta. Além disso, desde que bem manejadas e respeitando a conservação dos solos, representam uma forma de sequestro de carbono atmosférico. Apesar dos elevados índices de pastagens degradadas, é possível reverter esse quadro por meio de medidas adequadas para cada grau de degradação, contribuindo para o papel desse tipo de agroecossistema na produção global de alimentos e na preservação ambiental.
Segundo o Censo do IBGE de 2006, o Brasil possuia cerca de 172 milhões de hectares de pastagens naturais e plantadas, o que corresponde a 20% do território do país. Estima-se que desse total, 30 milhões de hectares sejam de áreas que apresentam algum estado de degradação, uma vez que a grande disponibilidade de terras no país ea facilidade de cultivo das forrageiras e criação dos animais em sistema extensivo podem ter desmotivado o pecuarista com relação ao adequado manejo da pastagem. A produção de bovinos em áreas degradadas pode chegar a ser seis vezes menor do que em pastagens em boas condições.
Um ecossistema de pastagem deve ser observado e cuidado em todos os seus aspectos, desde o clima e solo da região, da espécie de forrageira utilizada, das exigências do animal que se alimenta dessa pastagem e do manejo do rebanho. Uma pastagem degradada caracteriza-se por apresentar acentuada diminuição da produtividade potencial para o ambiente no qual está localizada e sem condições de recuperar-se espontaneamente. A degradação de pastagens resulta em degradação do solo e comprometimento de todo o ecossistema. Os fatores que levam a degradação das pastagens são:
- Medidas de manejo incorretas que resultam na alteração da composição botânica: A elevada pressão de pastejo pode provocar excesso de corte da parte aérea sem que haja tempo de recuperação das reservas da planta pelo sistema radicular, resultando em queda na produtividade e em falhas no estande, abrindo espaço para plantas invasoras.
- Invasão por espécies de plantas indesejáveis: As espécies invasoras muitas vezes apresentam características que as posicionam em vantagem com relação às espécies cultivadas, como por exemplo, tolerância ao déficit hídrico, capacidade de formação de banco de sementes no solo e eficiência de translocação e concentração de nutrientes do solo, reduzindo a disponibilidade destes para as espécies forrageiras.
- Uso de espécies forrageiras não adaptadas: As espécies de forrageiras utilizadas em pastagens passaram por processo de melhoramento genético e seleção de genótipos com características que podem ser desejáveis de acordo com o ambiente. É possível utilizar espécies com maior capacidade de absorção e eficiência de utilização de nutrientes, o que confere tolerância à baixa fertilidade do solo. Para o Brasil são interessantes espécies com tolerância aos baixos teores de fósforo (P), nutriente limitante em nossos solos. Também a resistência ao déficit hídrico representa habilidade de recuperação durante períodos de estiagem. Outra característica positiva é a eficiência no uso da água, que se apresenta maior nas gramíneas, que com uma mesma quantidade de água produzem o dobro de biomassa em relação às espécies de folha larga. A resistência ao pastejo é outro ponto a ser observado, uma vez que plantas com o ponto de crescimento mais rente ao solo ou com hábito de crescimento prostrado são menos sensíveis a altura de corte.
Todavia, o que acontece frequentemente é a escolha inadequada da espécie ou variedade de forrageira para as condições de uma determinada área. Um exemplo disso é a realização, pelo produtor, do plantio da gramínea mais divulgada no momento, geralmente de grande exigência nutricional, sem se atentar ao fato de que suas terras oferecem baixas condições de fertilidade ou elevados teores de acidez.
- Solos com fertilidade deficiente: A fertilidade dos solos tropicais é considerada baixa, com mas esse não é o fator definitivo para garantir a preservação da planta forrageira na área. Plantas mal nutridas ou seja plantas que terão um rítimo de crescimento bem baixo necessitam de um manejo que auxilie a sua recuperação após ser utilizada. Como o manejo do pastejo é muito mal feito, plantas mal nutridas deverão morrer muito mais rápido do que as plantas estabelecidas em ambiente onde a nutrição (adubado ou solo mais fértil) é melhor mesmo que esteja sendo também mal manejada.
- Espécies associadas incompatíveis entre si: Quando a pastagem é composta de mais de uma espécie, como em associação com leguminosas, o uso de espécies incompatíveis pode gerar desfavorecimento de uma das forrageiras. Por exemplo, em pastos consorciados de gramíneas com leguminosas, as primeiras, de rápido crescimento (metabolismo C4), podem exercer o domínio e a exclusão das leguminosas, especialmente em condições tropicais. No entanto, a introdução de leguminosas no pasto é possível na maioria das vezes, desde que sejam observados alguns fatores que determinam a compatibilidade entre as espécies, como hábito de crescimento, palatabilidade, tipo de sistema radicular, resistência ao pisoteio, tolerância ao déficit hídrico ou excesso de água, competição por espaço e luminosidade e resposta a fatores limitantes de fertilidade.
Avaliação do grau de degradação
As medidas de melhoria de um pasto dependem do grau e da sua principal causa da degradação, e os critérios para avaliação dependem da espécie forrageira cultivada. Na Tabela 1 são apresentados graus de degradação que podem ser verificados na maioria das espécies de gramíneas
A degradação da pastagem acontece em estágios. No primeiro deles, ocorre o distúrbio fisiológico da espécie dominante, no qual a espécie mais palatável e, portanto, mais consumida, perde o vigor e pode perder a atividade reprodutiva. Com isso, vem o segundo estágio, no qual a espécie mais consumida terá sua população reduzida levando a alteração na composição botânica dapastagem.No terceiro estágio, ocorre a invasão da área por novas espécies que se aproveitam dos espaços deixados pela redução da população original e de sua vantagem competitiva com relação à forrageira cultivada (Figura 1). Tendo essa sequência como base, pode-se afirmar que os critérios para avaliação do grau de degradação de uma pastagem devem analisar a diminuição da produção de forragem, a alteração na composição botânica e o grau de erosão do solo.
Os graus de degradação de uma pastagem são, de maneira geral, descritos a seguir, em ordem crescente de degradação, na Tabela 1:
Tabela 1 – Graus de degradação de pastagens.
Grau | Características |
1 | Redução na produção de forragem, na qualidade, na altura e no volume durante a época de crescimento. |
2 | Diminuição na área coberta pela vegetação, pequeno número de invasoras. |
3 | Aparecimento de invasoras de folhas largas, início de processo erosivo pela ação das chuvas. |
4 | Presença, em alta proporção, de espécies invasoras, aparecimento de gramíneas nativas e processo erosivos acelerados. |
Fonte: Barcellos, 1986.
Cada grau abrange a característica dos graus anteriores mais a sua peculiaridade. Conforme descrito anteriormente, cada grau de degradação exigirá estratégias particulares de melhoria do pasto.
Diferença entre recuperação, renovação e reforma de pastagens
A realização da recuperação, da reforma ou da renovação de uma pastagem depende não só do grau de degradação no qual ela se encontra, como também do objetivo do produtor ao reverter a situação de seu pasto, dos insumos disponíveis e do nível de tecnificação do produtor.
A recuperação é indicada nos casos menos graves, com redução da produtividade devido a problemas de fertilidade e ligeira infestação de plantas daninhas, porém com o cultivo da espécie forrageira adaptada às condições de clima e solo da região. A recuperação de um pasto corresponde a práticas de manejo que restaurem o vigor e a produtividade da pastagem, como adubação (baseada em análise química do solo), controle das plantas invasoras e sobressemeadura da espécie já existente no local.
A adubação do solo de pastagem para incremento de sua fertilidade é fator fundamental na recuperação da vegetação, uma vez que nutrientes como nitrogênio (N) e enxofre (S) fazem parte da estrutura das proteínas sintetizadas pelas gramíneas. Em pastagens de capim Brachiaria, a realização de adubação sem adição de N permite aumento da produção de matéria seca apenas no primeiro ano, enquanto que o fornecimento de N permite a manutenção da produtividade da pastagem, conduzindo à sua recuperação.
Isso acontece porque o nitrogênio permite aumento da taxa de expansão foliar e aumento da massa, número e tamanho de perfilhos, além da maior produção de matéria seca da parte aérea e do sistema radicular. O enxofre é essencial à planta por fazer parte da formação de moléculas, como a clorofila, além de substâncias que transmitem sabor e odor e determinam a palatabilidade da forrageira ao animal. Em pastagens com deficiência de nitrogênio, a resposta ao fornecimento de enxofre será reduzida.
Para a realização da recuperação de um pasto a infestação de plantas daninhas deve estar em um nível baixo, que permita o fácil controle com herbicidas. Também, nesse caso, não há a necessidade de utilização de máquinas para o preparo do solo. A sobressemeadura é realizada somente em casos de pastagens mal formadas, que tiveram problemas em seu estabelecimento devido a aspectos como grande profundidade de semeadura, uso de sementes de má qualidade ou densidade populacional inadequada, entre outros.
A recuperação direta da pastagem sem preparo do solo não inclui o cultivo intermediário de cultura anual, e por isso é indicada para situações nas quais o produtor não tem infraestrutura, máquinas e equipamentos para produção agrícola, não está habituado a atividade agrícola, não tem recursos financeiros disponíveis e a recuperação é esperada em curto prazo.
A reforma da pastagem é indicada para casos nos quais o grau de degradação é mais elevado, onde a vegetação será eliminada totalmente e um novo pasto, da mesma espécie anterior, será implantado. Quando, além da infestação por daninhas e baixa fertilidade, o solo apresentar sinais de compactação, será necessário a realização da escarificação ou subsolagem, acompanhados da adubação; sob essas cirunstâncias o processo pode ser chamado de recuperação direta com preparo mínimo. Em áreas onde aos problemas citados anteriormente são somados erosão do solo, cupins, baixa fertilidade e elevada acidez destaca-se a necessidade de entrada de máquinas no local, para realização de gradagens, calagem e adubação e controle de daninhas, processos que caracterizam a chamada recuperação direta com preparo total do solo.
Outra opção de reforma é a implantação de lavouras intermediárias (recuperação indireta) na qual há o cultivo de pelo menos um ciclo de cultura anual, cuja adubação favorece a recuperação da fertilidade do solo, permitindo a reimplantação de pastagem de espécie exigente em nutrientes. O cultivo de soja, milho ou arroz é rentável para o produtor, mas o custo de produção é mais elevado no primeiro ano e tende a decrescer nos anos subsequentes, acompanhado do aumento de produtividade, o que pode levar o produtor a optar por manter a lavoura por dois ou três anos. Dependendo das condições climáticas da região é possível também a implantação de cultura de inverno, como aveia preta ou milheto, que atuam como cobertura do solo e reforço alimentar do gado período seco.
A renovação da pastagem é realizada para os mesmos graus de degradação requeridos para a reforma, com a diferença de que a cultivar ou espécie forrageira é substituída. A renovação é direta quando a semeadura é feita logo em seguida às medidas de manejo do solo, e indireta quando há o cultivo de uma cultura intermediária. O pecuarista deve optar por realizar a renovação de seu pasto quando a espécie forrageira utilizada não é adequada às condições edafoclimáticas do local, quando é sucetível a doenças e pragas frequentes na região, ou ainda quando, após o cultivo de lavoura intermediária e realização de adubação, houve sucesso na recuperação da fertilidade do solo e o produtor deseja instaurar um pasto com espécie mais produtiva, que em geral, tem maior exigência nutricional.
De maneira geral, o grau de tecnificação requerido para as medidas de reversão da degradação é menor para recuperação, e aumenta gradativamente para reforma e, em seguida, renovação.
Fontes Consultadas
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