Um dos fatores determinantes do sucesso de qualquer programa nutricional é garantir que a vaca leiteira apresente consumo adequado de alimentos. Para que isto ocorra, não basta apenas oferecer ração balanceada ao animal. Inúmeros fatores relacionados ao manejo diário da propriedade têm reflexo direto na ingestão de alimentos pela vaca. É por esse motivo que o manejo nutricional correto vai muito além da formulação da dieta. O consumo de alimentos pode ser afetado por fatores como manejo pré-parto, condição corporal ao parto, qualidade da forragem, balanceamento da ração, manejo de cocho, disponibilidade de água de boa qualidade, problemas de casco, agrupamento de animais e condições de conforto do animal, dentre outros fatores.
Muitos desses fatores podem ser mais difíceis de serem controlados que a formulação em si. A diferença esperada de consumo entre uma vaca produzindo 20 ou 30 kg de leite por dia é de apenas 3 kg de matéria seca. Redução de consumo desta magnitude pode facilmente ocorrer quando alguns itens de manejo não são observados com atenção na rotina diária da fazenda. O conhecimento na área de formulação e balanceamento de rações para vacas leiteiras tem evoluído de forma expressiva nas últimas décadas. Ajustes finos na formulação, como a adequação da dieta em proteína degradável e não degradável no rúmen, o balanceamento em aminoácidos essenciais, o ajuste nas proporções entre carboidratos fibrosos e não fibrosos e o uso de aditivos nas dietas, são práticas que têm permitido aumentar a produtividade dos animais. Entretanto, todo esse conhecimento pode não ter o efeito positivo esperado em produção de leite, caso um ou mais fatores do manejo nutricional não recebem a devida atenção e o consumo da vaca seja afetado negativamente.
O consumo de alimentos pelos bovinos é controlado por dois mecanismos básicos: controle físico e controle quimiostático. Para uma vaca produzindo ao redor de 20 kg de leite/dia, o controle físico atua quando a digestibilidade da dieta é inferior a 68%. Isto é determinado pelo enchimento do rúmen. Quando o alimento ingerido tem digestibilidade baixa, este demora em passar do rúmen para o intestino delgado e por enchimento do rúmen limita o consumo de mais alimento. À medida que a digestibilidade do alimento melhora, ele passa mais rápido pelo rúmen e o consumo é crescente. Este mecanismo atua até que o alimento ingerido atinja ao redor de 68% de digestibilidade. A partir desse ponto, a limitação ao consumo não é física. O mecanismo quimiostático, regulado pela ingestão de energia do animal passa a determinar a redução no consumo. O consumo de alimento começa a cair, mas em função da sua densidade energética alta, o consumo de energia continua crescendo até certo ponto.
Com o objetivo de estabelecer um programa nutricional para vacas leiteiras, há a necessidade de se agrupar os animais em função das diferentes fases por que passam durante o período entre um parto e outro. Com base nas exigências nutricionais da vaca leiteira, são identificadas quatro fases distintas ao longo da curva de produção:
1) Período seco
Durante os primeiros 40 dias do período seco, as exigências nutricionais da vaca podem ser supridas sem grandes dificuldades, pois o animal consegue ingerir quantidade adequada de alimento. Vacas que na secagem apresentarem condição corporal ao redor de 3,5 (escala de 1 a 5), podem ser alimentadas apenas com volumoso de boa qualidade e mistura mineral. Vacas com condição corporal abaixo de 3,5 podem necessitar de suplementação com concentrado. Na fase final do período seco, nas últimas 3 semanas que antecedem o parto, a vaca entra no período de transição, que se estende até 3 semanas pós-parto.
Nessa fase pré-parto, o crescimento acelerado do feto e o início da síntese de colostro aumentam significativamente a exigência nutricional da vaca. Este fato é agravado pela queda no consumo de alimento por parte da vaca nesta fase final. Estes fatos implicam na necessidade de se aumentar as densidades energéticas, protéicas e de minerais e vitaminas das rações de vacas leiteiras nas 3 semanas que antecedem o parto.
O manejo de vacas leiteiras nas 3 últimas semanas pré-parto, têm grande impacto na produção de leite, reprodução e saúde da vaca durante a futura lactação. Vacas que parem magras, com condição corporal abaixo de 3,5, não têm reservas de energia suficientes para apresentar pico de lactação alto. Vacas que parem com excesso de condição corporal, especialmente com escore acima de 4,0 são mais propensas a apresentarem distúrbios metabólicos após o parto, baixa produção de leite e perda excessiva de condição corporal após o parto.
2) Início de lactação (1 a 100 dias pós-parto)
Esta é a fase de maior produção de leite da vaca. A produção é crescente até aproximadamente 60 dias pós-parto, quando a vaca atinge o pico de lactação. As 3 primeiras semanas após o parto são as mais críticas para a vaca leiteira. Muitos dos problemas que acometem vacas leiteiras ocorrem durante este período e estão normalmente ligadas às mudanças drásticas de metabolismo, alterações hormonais, aumento na demanda de nutrientes, depressão da imunidade, estresse do parto e início da lactação. Todos estes fatores podem ser exacerbados quando o manejo pré-parto é inadequado.
O grupo de vacas em início de lactação é o que recebe a alimentação com maior concentração de nutrientes, ou seja, com maior teor de concentrado. Em função da mudança drástica em apenas 60 dias, do final do período seco ao pico de lactação, é necessário que o aumento na dose de concentrado seja gradativo nas primeiras semanas pós-parto. O consumo de alimento é crescente pós-parto, porém abaixo do necessário para suprir as exigências da vaca até o pico de lactação. O pico de consumo de MS só ocorre 30 a 60 dias após o pico de lactação. Isto resulta na perda de condição corporal da vaca nos primeiros 30 a 60 dias pós-parto.
Os principais objetivos ao se formular rações para vacas em início de lactação são maximizar o pico de lactação e minimizar a perda de condição corporal pós-parto.
3) Meio de lactação (101 a 200 dias pós-parto)
Nesta fase, a vaca atinge o pico de consumo de matéria seca, a produção de leite apesar de ainda ser alta, está em declínio e tem início a reposição de condição corporal. As exigências em energia, proteína, minerais e vitaminas são menores que na fase anterior. Ajustes devem ser feitos na ração, com redução no teor de concentrado da mesma.
4) Final de lactação (201 a 305 dias pós-parto)
Nesta fase a ingestão de nutrientes é bem maior que a demanda, uma vez que a produção está em franco declínio. Esta é a fase de maior reposição da condição corporal da vaca. Excesso de concentrado nesta fase, além de elevar os custos de produção pode favorecer a ocorrência de vacas com condição corporal excessiva, fator predisponente para distúrbios metabólicos pós-parto.
Vacas primíparas – um grupo a parte
Vacas primíparas em início de lactação são os animais de maior exigência nutricional do rebanho. Entretanto, ocupam posição hierárquica inferior ao das vacas multíparas, que são dominantes em relação às primíparas. Seja em sistemas confinados ou em sistemas em pastagens, é importante agrupar estas vacas separadamente das demais. Em rebanhos que utilizam pastagens, apesar do problema não ser tão intenso durante o pastejo, o fornecimento do concentrado em grupo, pode ser crítico para estas vacas se mantidas juntas com as multíparas. Neste caso, certamente não conseguirão comer a quantidade necessária de concentrado.
Os alimentos volumosos mais utilizados nos sistemas de produção de leite no Brasil são as pastagens, as silagens de milho, sorgo ou capim e a cana-de-açúcar. Animais mantidos exclusivamente em pastagens tropicais bem manejadas têm seu potencial de produção de leite limitado em 8 a 14 kg/vaca/dia. As vacas dificilmente conseguem ingerir quantidades de forragem suficiente para produções maiores que as citadas. Quando alimentadas exclusivamente com silagem de milho ou sorgo, o teor baixo de proteína destes alimentos limita a produção a patamares inferiores ao das pastagens tropicais. No caso da cana-de-açúcar as limitações em proteína são tão severas que não permitem sequer a manutenção do animal.
O uso de alimentos concentrados tem por objetivo suprir as deficiências nutricionais das forrageiras e permitir produções elevadas das vacas leiteiras. Os concentrados são na grande maioria compostos por suplementos energéticos, suplementos proteicos e suplementos minerem se vitamínicos. Tanto os suplementos energéticos quanto os proteicos, contêm energia e proteína, com raras exceções. Os suplementos energéticos são assim chamados por conterem teores altos de energia e teores baixos de proteína. Por outro lado, os suplementos proteicos contêm teores elevados de proteína, podendo também ser ricos em energia.
No Brasil os principais suplementos energéticos utilizados nos concentrados de vacas leiteiras são os grãos de cereais como o milho, o sorgo, o milheto e diversos subprodutos como a polpa cítrica, a casca de soja, o farelo de arroz, o farelo de trigo e o farelo de mandioca, dentre outros. Estes ingredientes contêm teores altos de energia, entre 75 a 92% de NDT (%MS), mas são pobres em proteína bruta, com teores normalmente inferiores a 12% (%MS). O farelo de trigo tem 16 a 18% de proteína bruta (%MS).
Os principais suplementos proteicos utilizados nos concentrados de bovinos no Brasil são o farelo de soja, o farelo de algodão e a ureia, fonte de nitrogênio não proteico. O farelo de soja tem 47 a 50% de PB e 82% de NDT (%MS). O farelo de algodão tem 38 a 41% de PB e 66a 75% de NDT (%MS). A ureia é fonte de nitrogênio não proteico e contêm 45% de nitrogênio. Como a proteína tem 16% de nitrogênio, o equivalente proteico da ureia é de 281%, ou seja, todo o kg de ureia equivale a 2,81 kg de proteína bruta. As sementes de oleaginosa como a soja grão e o caroço de algodão são boas fontes de proteína, porém ricas em energia devido ao teor alto de óleo, ao redor de 18% da MS. A soja grão tem de 36 a 40% de PB e 101% de NDT. O caroço de algodão tem ao redor de 24% de PB e 90% de NDT (%MS). O farelo de amendoim é um suplemento proteico com 50 a 52% de PB, com oferta crescente no país.Suplementos com teores médios de PB são o farelo de girassol (30% de PB), o resíduo de cervejaria (20 a 25%) e o farelo glúten de milho –21 (refinasil ou promil) com 21 a 24% de PB.
Os concentrados para vacas leiteiras devem conter núcleo mineral na sua composição. A formulação do núcleo mineral vai depender da exigência do animal e da composição mineral dos alimentos consumidos pelo bovino.Pastagens são ricas em vitaminas A, D e E, não havendo a necessidade de suplementar os animais. Entretanto, forragens conservadas na forma de silagem ou feno, perdem quantidades grandes dessas vitaminas, principalmente de vitamina A, sendo recomendado suprir essas vitaminas no concentrado.
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